20 de jul. de 2014

Exemplo: aprovado na UnB, flanelinha maranhense pretende passar em concurso público

Com a ajuda de amigos, conseguiu desconto nas aulas de informática e, embora não saiba, tem emprego garantido
Com a ajuda de amigos, conseguiu desconto nas aulas de informática e, embora não saiba, tem emprego garantido
Embora as marcas deixadas pela vida ainda dificultem o sorriso de José Mario Silva dos Santos, 52 anos, ele continua a lutar por dias melhores. Depois de nove anos trabalhando sob o sol forte, os estudos surgiram como esperança de uma vida melhor. Entre o trabalho de flanelinha e as dificuldades para sobreviver, ele conseguiu passar no vestibular da Universidade de Brasília. Não perdeu tempo. Fez a matrícula logo no primeiro dia e, agora, é aluno do curso de gestão do meio ambiente. E a vida dele já começou a mudar. Além do registro na instituição, começa hoje a frequentar um curso preparatório para concursos.
Também quer aprender a usar algo desconhecido para ele, o computador. Com a ajuda de amigos, conseguiu desconto nas aulas de informática e, embora não saiba, tem emprego garantido. Assim que a UnB o liberar para fazer estágio, será monitor no Máxima Formação Educacional (MFE Cursos), o pré-vestibular que concedeu a ele bolsa de 100% para se preparar para o vestibular.
O salário será de R$ 800, mesmo valor que tirava nas ruas ao vigiar automóveis, que poderá ser somado aos benefícios que pretende conseguir como estudante. “Vou dar entrada no pedido dos auxílios alimentação e moradia. Vou atrás de tudo isso para não ter que cuidar nem lavar carro. A UnB é um casamento, vou me dedicar a ela por inteiro”, diz.
As aulas começam em 11 de agosto. Até lá, vai continuar a exercer a profissão. “Tenho que pagar o curso de informática e continuar a viver. Começo também a me preparar para concursos. Vou passar”, almeja. Uma simples conversar com José Mario deixa clara a capacidade do universitário. Narra histórias com desenvoltura, tem um português invejável e, a todo tempo, faz análises sobre o próprio comportamento. Para ele, errar seria envolve também todas as pessoas que o ajudaram. “Contei com o apoio dos professores, dos donos do MFE. O proprietário de uma padaria pagou a minha inscrição na UnB. Preciso dar uma satisfação a eles, pois acreditaram em mim”, afirma.
José Mario nem sempre foi flanelinha. Vivia uma rotina estável em São Luís. Casou-se cedo. A primeira filha nasceu quando ainda tinha 15 anos. Trabalhava como fundidor em uma fábrica de alumínio e perdeu o emprego quando tinha quatro filhas. Não se abateu. Abriu o próprio negócio. Vendia relógios importados do Paraguai, enquanto a esposa comercializava roupas. A filha mais velha, com 18 anos à época, também trabalhava, era comerciante de produtos para cabelo. Tudo ia bem quando a separação o abateu. “Cheguei em casa e tinha um caminhão de mudanças na porta. Ela levou tudo”, lamentou.

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